Princípios da casa Bio-Climática:

Cada projeto é único e está intimamente relacionado ao local em que se encontra, bem como seu posicionamento na quadra com relação ao sol, ventos e demais fatores externos.

A concepção básica deste tipo de construção surge da interpretação dos dados climáticos locais, como:

-Localização geográfica do terreno (latitude e longitude);

-Orientação solar do lote;

-Orientação dos ventos predominantes no lote;

-Identificação de possíveis áreas de sombra e obstáculos aos ventos no entorno do lote.

A partir de então, é possível conceber os espaços arquitetônicos de acordo com esses dados climáticos e o comportamento/característica de cada material.

Sendo assim, a edificação se comporta como um sistema interligado, em que cada espaço é pensado como consequência do outro e todos estão relacionados, viabilizando, assim, o funcionamento completo do sistema.

Neste caso, visto a localização geográfica da edificação, a maior preocupação é em garantir o conforto térmico dos habitantes através do resfriamento natural da casa.

A construção se concentra na frente do lote para garantir uma área ajardinada no fundo, voltada para a face Leste, que recebe o sol da manhã e os ventos predominantes, proporcionando um resfriamento deste vento ao passar pela vegetação antes de chegar à casa.

Com a definição inicial dos materiais básicos de construção: blocos cerâmicos estruturais e telhas cerâmicas, toda a edificação foi concebida a partir destes elementos.

O tamanho dos ambientes, comprimento e altura das paredes e dimensões das aberturas (portas e janelas) foi todo modulado a partir do bloco cerâmico estrutural de 29x19x14cm, fabricado pela Amapá Telhas, empresa local que fabrica seus produtos a partir de manejo sustentável. As dimensões dos ambientes seguem padrões de 3,00×3,00m e 3,00×1,50m, pensando na facilidade de execução das lajes de piso, evitando-se o grande número de escoras e resultando numa obra mais econômica.

A inclinação da cobertura, que confere o resultado estético ao conjunto, surge da inclinação ideal exigida pelas telhas, de 35%, igualmente fabricadas pela Amapá Telhas. Desta forma, os ambientes têm pés-direitos variáveis que tiram partido da inclinação da cobertura para proporcionar a exaustão do ar quente entre os ambientes e a torre de ventilação. Grandes aberturas foram direcionadas para os ventos predominantes de Leste e Norte, garantindo a admissão do ar fresco.

Um dos objetivos desta casa é promover a arquitetura sustentável e ecoeficiente, para tanto, houve a pretensão de conceber uma arquitetura relevante, que desperte a curiosidade e seja plasticamente instigante. Como um dos alicerces da sustentabilidade é ser “economicamente viável”, o desafio foi criar um desenho interessante dentro do programa normal de uma residência de 3 dormitórios, sem grandes esforços meramente estéticos, mas que a própria organização e funcionamento da casa proporcionasse elementos plasticamente interessantes.

Desde o início, fica evidenciada as decisões de projeto com as soluções construtivas e de desempenho da edificação.

O claro destaque à cobertura é dado devido à importância do telhado no projeto:

– Para mostrar o sistema de gotejamento;

-Para conferir identidade visual à casa;

-Para promover o produto da Amapá Telhas, por se tratar de uma empresa com manejo sustentável.

O sistema de gotejamento visa o resfriamento das telhas, impedindo que o calor seja absorvido e posteriormente irradie para dentro da edificação. Pode ser programado eletronicamente para apenas ser acionado nas horas mais quentes dos dias ensolarados e terá um sistema de reutilização de água, que circulará da cobertura para um reservatório/cisterna, cujo nível de água será mantido através da captação pelas chuvas.

A grande parede cega da fachada Oeste em forma de trapézio é um excelente mostruário dos blocos cerâmicos, conferindo forte apelo visual. A ausência de janelas se justifica: a face está voltada para o poente e precisa receber especial proteção contra a insolação, por isso a parede tem dupla espessura, com 30cm, conferindo maior inércia térmica e evitando que boa parte do calor seja transferido para a pare interna por irradiação.

Os dormitórios são orientados de maneira a receber a insolação mais branda e melhor ventilação natural possível, afim de se tornarem locais agradáveis. Sua dimensão proporciona espaços satisfatórios para o seu propósito de repouso, por isso evitou-se dormitórios muito grandes, que propiciariam a individualidade em detrimento da socialização dos habitantes. Desta forma, fica evidente o destaque às áreas comuns do térreo, com espaços amplos e integrados.

O abrigo foi dimensionado para um automóvel, no entanto, há espaço suficiente para uma caminhonete/utilitário juntamente com motocicletas. Quando não ocupada, a garagem funciona como uma grande varanda, integrando a sala com jardim e a rua.

Como visto, a edificação nasce a partir de um complexo e integrado sistema de posicionamento dos elementos construtivos afim de proporcionar o melhor desempenho possível para o clima no qual se encontra sem o uso demasiado de sistemas artificiais para iluminação e climatização, procurando tirar o melhor benefício dos sistemas naturais.

Paulo Trigo

Arquiteto autor do Projeto

FACHADA

DETALHE DO ACESSO

FACE NORTE COM VENEZIANA CENTRAL PARA ADMISSÃO DE AR FRESCO

FACE OESTE COM FACHADA CEGA E PAREDE DUPLA PARA PROTEÇÃO DA INSOLAÇÃO

FACE LESTE (VENTOS PREDOMINANTES)

FACE SUL

ABRIGO DE AUTOMÓVEIS SOB PERGOLADO

DETALHE DA TORRE DE EXAUSTÃO (CHAMINÉ SOLAR)

VISTA GERAL DA COBETURA