Experiências de intercâmbio-Paulo Trigo Ferreira
Experiências de intercâmbio
Como estudante do quinto ano do curso de Arquitetura e Urbanismo na École Nationale Supérieure d’Architecture de Paris-Belleville, tive a oportunidade de cursar as disciplinas que permitem o ingresso ao PFE (Project Fin d’Études), ou “diploma francês”. Estas disciplinas são o “Studio” (ou projeto) e o “Séminaire” (monografia).
Assim, escolhi os temas de “La Tour Métropolitaine” e “Pérennité et Obsolescence du Mouvement Moderne” como temas, respectivamente. Interessante observar como nas disciplinas de Studio o nome do professor toma mais destaque que o próprio tema do projeto, evidenciando o peso que o educador tem como verdadeiro orientador nestes casos. Assim, o Studio que cursei era simplesmente conhecido como “Studio Michel Kagan”. Uma figura polêmica e muito forte nas suas posições, criando por diversas vezes incompreensão por parte dos alunos na medida em que não entendiam o claro posicionamento pessoal deste ao avaliar os projetos. Particularmente, alunos brasileiros foram muito bem vistos nesta disciplina, uma vez que nossa forte influência do modernismo na graduação por aqui estava em acordo com o gosto pessoal e linha de projeto deste professor, Michel Kagan.
O método projetual baseado em estudos através de modelos ou maquetes desde o início foi algo totalmente novo e enriquecedor para mim, verificando-se a importância que nossa intervenção criaria na volumetria da escala urbana do projeto. Evidenciando a forte preocupação dos franceses com a co-relação das intervenções urbanas contemporâneas na cidade de Paris.
Para a monografia, tive a oportunidade de estudar o edifício sede do Partido Comunista Francês, projeto de Oscar Niemeyer e Jean-Maur Lyonnet, em Paris. Na ocasião, pude entrevistar o arquiteto francês em seu escritório em Paris, conversando sobre sua colaboração com o mestre brasileiro, a aceitação do público para um edifício tão distinto formalmente ao padrão parisiense e as implicações construtivas, como ocupação do terreno e relação com os edifícios residenciais vizinhos. Ainda nesta disciplina de séminaire, fizemos uma viagem didática à Copenhagen, onde pudemos ver em campo o emprego de alta tecnologia e pré-fabricação dos edifícios residenciais contemporâneos dinamarqueses. Também nesta ocasião, tive a sorte de poder visitar, juntamente de um morador, o edifício “Turning Torso”, projeto do arquiteto e engenheiro catalão Santiago Calatrava. Poder ver de perto uma obra monumental como esta, e tento como guia alguém que realmente habitava aquela realidade foi fundamental para entender a magnitude de uma obra do tipo. Seja em seus aspectos positivos, seja em suas carências.
Paralelamente à estas disciplinas integrantes ao PFE, também cursei a optativa “atelier bois”, em que pudemos construir pequenos mobiliários em madeira, técnica que julgo de grande importância para o “tato” do arquiteto com os materiais construtivos. A técnica de execução de maquetes, diga-se de passagem, é algo que trabalha-se muito bem na EESC-USP, apesar da escassez de maquinário e precariedade de materiais que dispomos no laboratório de maquetes. No entanto, essa escassez de recursos, tão divergente à riqueza e abundância no caso francês, não deixa de maneira alguma a desejar na qualidade extraordinária dos trabalhos que realizamos no Departamento de Arquitetura e Urbanismo.
Ainda no primeiro semestre, e durante toda minha participação no intercâmbio, realizei o “stage de formation pratique”, no atelier de Nicolas Bual, um jovem arquiteto parisiense com quem tive a enorme felicidade de muito mais que estagiar, criar grandes laços de amizade que me permitiram não só conhecer sobre arquitetura, construção e mercado imobiliário, mas da verdadeira cultura vernacular francesa, ocasião em que visitei o que chamam de “France profonde”, o interior agrícola francês.
Já no segundo semestre, além de continuar com o estágio, fui aluno ouvinte para o PFE, conciliado com meu TGI do Brasil. Tive a oportunidade de visitar e estudar o Fórum de Lyon, projeto de Yves Lion e Alan Levitt, onde passei três dias e obtive importantes referências que muito me auxiliaram no projeto de Fórum de meu trabalho final de graduação no Brasil, intitulado “Requalificação do Paço Municipal-Fórum de Limeira”.
Em suma, o que posso dizer desta experiência acadêmica vivenciada por nós, intercambistas, é que o aprendizado formal cumpre apenas parte da de nossa formação. O cotidiano, as influências culturais que obtemos através das novas amizades e as oportunidades de viagem são um regalo de valor inestimável. Em meu caso, ilustro como exemplo minha participação no “Congresso Mundial de Arquitetura de Turin”, ocasião em que precisei escolher entre entregar meu PFE ou ir à Itália. E somente naquela semana, imerso entre referências mundiais de arquitetura, nomes que estudamos na faculdade e seus projetos mais recentes apresentados ali, diante de nossos olhos, ao vivo, aprendi coisas que anos de leitura não seriam capazes de instruir.
Paulo Trigo Ferreira