Isay Weinfeld fala sobre o envolvimento entre arquiteto e cliente
Apesar da fama e dedicação intensa à profissão, Isay Weinfeld diz que a arquitetura tem importância relativa em sua vida
De tudo, um pouco: sem fórmulas prontas, Isay Weinfeld está sempre em busca de projetos que o desafiem – o que justifica um currículo diversificado com programas que vão de discoteca a hotéis e livrarias, passando pelas residências. Diversidade que também extrapola a arquitetura, e permite que seu talento esteja registrado no cinema, na cenografia e em exposições
Enveredou-se também pela cenografia e assinou exposições na capital paulista. Mas é na arquitetura que hoje se expressa com mais frequência, e busca cotidianamente seus desafios e sua felicidade. Sim, porque como Isay mesmo diz, “estou aqui, momentaneamente nessa vida, como todos nós estamos, para tentar ser feliz”. E é o que tenta fazer com seu trabalho: tirar a sisudez característica de uma arquitetura que se pretende ser importante, e oferecer um pouco de humor e surpresa a quem habita seus projetos. Não um humor sinônimo de sorriso escrachado, “mas o riso que provoca reflexão”, adverte.
Como é o processo de concepção de projeto em seu escritório? Você está presente em todos os projetos?
Não pego trabalho para outras pessoas fazerem. Aceito o trabalho porque tenho prazer em fazer e porque as pessoas estão querendo que eu faça. Então, nada mais natural do que eu atender essas pessoas. Faço o projeto com minha equipe, evidentemente, mas é assim que começa e segue. Por isso, também, não posso pegar muitos projetos. Esse é o escritório que quero.
É comum haver escolha de clientes? Como unir a arquitetura que se quer fazer com a arquitetura que o cliente quer -principalmente em início de carreira?
Aí são duas coisas diferentes. Você vai se formando. A arquitetura é uma profissão que demora muito para pegar no tranco e a maturidade é muito importante. É uma profissão que você precisa realmente de muito tempo de trabalho – e isso não quer dizer que você vá exercer melhor o seu ofício -, mas irá dominar seus instrumentos de trabalho. Claro que o jeito de lidar com a seleção de clientes é diferente de quando se começa. Mas o escritório já tem um jeito de ver as coisas, e as pessoas que chegam aqui procuram esse jeito de ver. Têm afinidades com essa maneira de ver o mundo e principalmente com meus valores. Acho que isso talvez venha muito antes do gosto ou da capacidade criativa ou de qualquer outra coisa: as afinidades éticas mais do que as estéticas. Assim não há antagonismo entre o que quero fazer e o que cliente quer. A escolha é natural. Pode ser que haja uma seleção de projetos, não tenho porque negar. Mas não é por arrogância ou prepotência. É por honestidade, não tenho dúvidas. Pego um trabalho para que possa ter prazer, e para que possa dar prazer ao cliente. Não tem outro motivo que faça com que eu aceite um trabalho. E, claro, se eu acho que tenho condições de resolver o problema dele. Porque quando acho que não é para mim, que não vou saber fazer, não pego. Há várias razões que me fazem não pegar um trabalho. A primeira é isso: o jeito de ver a vida. Não é uma bobagem, é óbvio.
Até porque é um relacionamento…
De três anos em uma casa. Não é brincadeira. Não há dinheiro no mundo que me pague para fazer isso. Tenho de estar a fim de fazer, procuro aqui o meu prazer diário. Meu, do cliente e da equipe, penso muito em todo mundo, em trazer alguma coisa que dê prazer a todos nós aqui no escritório. Às vezes também é o tema, não gosto de me repetir, de fazer coisas que já fiz. Não tenho vontade. E se não tenho vontade vai ser ruim para o cliente ter um arquiteto por três anos sem vontade de fazer. Não tem sentido. São três anos de vida, isso não é pouca coisa.
Eu quero fazer a casa que tenha a cara do cliente, mas vista através do meu olhar. Isso está ligado ao respeito que tenho por quem me procura para fazer um trabalho.
Veja a entrevista completa no site da AU:
http://www.revistaau.com.br/arquitetura-urbanismo/209/flerte-com-os-prazeres-226526-1.asp